quarta-feira, dezembro 27, 2006

Sabe-me.

Sabe a verde, a cegonhas, a árvores. A árvores, a cegonhas, a verde outra vez. Sabe a fumo. Sabe delicadamente a fumo. Sabe deliciosamente a fumo e a frio na ponta do nariz. No nariz, no cabelo, nas mãos inteiras. Nos corpos gelados inteiros. Sabe a vozes altas, a gargalhadas imensas, às saudades que vão morrendo lá atrás. Sabe a lareira, a círculos vermelhos e elipses vermelhas e círculos vermelhos e elipses vermelhas na ponta de um pauzinho tosco de madeira. Sabe a torradas e bolotas. A pão verdadeiro. A azeite amarelo a sério. A azeitonas pequeninas e pretas. A amêndoas, a chocolate, a mel. A frutas a fingir. A caramelos e chupas-chupas num saco de plástico transparente. Sabe à manta de retalhos da minha avó. Vermelho, azul, cor-de-laranja, verde, roxo, amarelo e violeta. Sabe aos teus olhos tão grandes. Sabe às mãos enormes e fundas do meu avô. Ao abismo de coisas que tens nas mãos. Ao riso do meu avô. Ao assobio sempre igual do meu avô. Sabe a avô. Sabe tanto a avô. Sabe mesmo mesmo a avô. Aos teus abraços apertados como se não existisse amanhã. Tu dizes cada vez tenho mais saudades. E eu sorrio e eu rio e desenho círculos vermelhos e elipses vermelhas e círculos vermelhos e elipses vermelhas na ponta de um pauzinho tosco de madeira. E cada vez tenho mais saudades. Como se não existisse amanhã.


E juro que me sabe mesmo a vermelho, azul, cor-de-laranja, verde, roxo, amarelo e violeta.

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